Uma mulher teve que vestir-se de coragem para denunciar um poderoso médico. Quem de nós seria tão irreverente? Não sei o nome dessa aguerrida mulher, mas é preciso homenageá-la, foi ela quem deu o primeiro passo para que outras e muitas outras viessem a público, mostrassem também seus rostos e pudessem contar suas histórias de pânico. Certamente sentiram-se constrangidas, envergonhadas, humilhadas em seus mais íntimos sentimentos. Será que seus maridos, companheiros e familiares acreditaram nelas desde o princípio? Afinal, ele era um profissional de muito sucesso, com uma reputação inquebrantável. Soube que, após a revelação, a maioria teve a família desfeita e uma delas perdeu até o desejo da maternidade. Muitas vidas mudaram de rumo após o “tratamento” com o médico famoso, poderoso – um “Deus” – como ele mesmo se descreveu a algumas de suas vítimas. Foi preso, condenado e mesmo tratando-se de um crime elencado na Lei dos Crimes Hediondos, em que as regras são mais severas, ele obteve o benefício da liberdade condicional. E livre, foi viver em outras paragens, usando o dinheiro que ganhou com suas práticas criminosas. Escondeu a própria cara em disfarces, enquanto suas vítimas mostraram suas fisionomias para toda a sociedade brasileira. Ele declarou que, para ele, suas vítimas não tinham rosto. Em resposta elas dizem: – temos sim. Temos rostos, sentimentos, vidas, histórias.
E agora? Será que a Justiça Brasileira vai permitir novas regalias? Os famosos advogados estão trabalhando para isso, já estão divulgando que o julgamento ainda não transitou em julgado, ou seja, que o processo penal ainda terminou, ainda há recursos, apelações. Muitos capítulos ainda virão e com eles, talvez decepções públicas. Mas, é preciso que todas as vítimas se revistam da mesma audácia daquela primeira mulher e venha denunciar, como já estão denunciando. Venham, venham, contem suas histórias, mesmo que elas sejam horríveis, para que outras não sejam vítimas de criminosos como esse, que se escondeu em sua profissão de sucesso e cujo nome me recuso a escrever aqui. Ao Judiciário Brasileiro fica a súplica desesperada da sociedade, principalmente das mulheres. Ansiamos por justiça!
*Telma Tulim é delegada de Polícia aposentada e vereadora pelo PSDB de Tupã, São Paulo





