Temos visto, nos últimos dias, o noticiário, não apenas o internacional, focar a questão do atentado terrorista à boate Bataclan, em Paris, em que morreram entre cem e cento e cinquenta pessoas vítimas de radicais islâmicos. Esse assunto é um tanto complexo, pois mexe com questões culturais fortes, arraigadas, e valores polêmicos, que são relativizados quando corremos nosso olhar entre os diferentes povos, as diferentes culturas do mundo.
Há um aspecto notoriamente sabido pelas pessoas mais instruídas mas pouco enfatizado pelos meios de comunicação, principalmente aqueles mais comprometidos em legitimar uma ofensiva desenfreada ao Oriente Médio por parte dos países que foram vítimas de atentados: o de que o Islamismo em si, o genuíno Islamismo, não prega o ódio, o machismo, a falta de compreensão e aceitação de diferenças. Os movimentos islâmicos atuais, que pregam o radicalismo em prol do Islã, deturpam muitas passagens do Corão, o livro sagrado do Islã, pregando uma versão hostil e dogmática de tal, versão essa que sequer poderia, segundo eles, ser questionada. Dessa forma vimos, nos últimos tempos, imagens de movimentos sírios radicais destruindo monumentos seculares, alguns milenares, mesmo, porque tais monumentos não pertenciam à fé islâmica. Vimos radicais muçulmanos cometendo bárbaros atentados contra a humanidade. Esses radicais precisam ser perseguidos e devidamente punidos. É fato. Mas isso não legitima a guerra, a falta de aceitação em relação a diferentes crenças, e muito menos a arbitrariedade com que contam as grandes potências mundiais para abrir uma ofensiva desmedida, bombardear o Oriente Médio com o verdadeiro intuito sendo o econômico.
Vale lembrar que muitos dos líderes muçulmanos radicais foram treinados e financiados pelo Ocidente quando isso interessava. Hoje os valores ocidentais pairam inquestionáveis sobre o mundo, e muitos movimentos que a princípio seriam libertários acabaram por deslegitimar sua causa por causa dos meios usados. Expresso-me melhor: quando vários “rincões” do mundo, como o Oriente Médio e a África, entenderam que não mais havia uma voz eloquente contra as principais potências que lhes impuseram uma condição de miséria, tais “rincões” se viram órfãos de líderes legítimos, de pessoas que verdadeiramente empunhariam uma bandeira libertária e que ao mesmo tempo fosse uma bandeira justa. As populações desses países, entregues à miserabilidade, passaram a ver nesses falsos líderes, portanto, uma oportunidade para gritar, clamar por seus direitos, pois é inconcebível que nos dias que seguem haja verdadeiras hordas excluídas economicamente no planeta. Ergueram-se, então, os falsos heróis do Apocalipse.
O Ocidente precisa, necessariamente, entender que não dá para viver uma fase de intensa globalização excluindo várias porções de terra ao redor do Globo. Enquanto Paris não olhar para sua periferia, composta por senegaleses, malineses, somalis, etíopes, iemenitas, iraquianos, sírios, indonésios, sofrerá atentados por parte dessa gente excluída do Ocidente e órfão de uma voz rebelde que não seja completamente insensata. O Ocidente precisa, necessariamente, “olhar para o próprio umbigo”. Diferentemente do combate a um vírus, em que simplesmente tomamos medicamentos para matar o vírus, não se pode tratar seres humanos da mesma forma. Podemos e devemos declarar guerra ao terrorismo. Mas isso não é de todo eficiente. Matar terroristas é uma coisa. Matar seres humanos de outro credo, indistintamente, apenas por serem “iminentes terroristas” é outra. Podemos matar uma suspeita de vírus. Mas não podemos, peremptoriamente, matar “suspeitas de terrorismo”, pois se trata de seres humanos. E se a questão é extirpar de vez a ameaça, é necessário saber que isso só ocorrerá no dia em que o Ocidente souber lidar com as suas periferias. No dia em que se assegurarem condições dignas aos “rincões” do mundo. No dia em que as populações egressas da miséria da África e da Ásia não ficarem à míngua no Mediterrâneo como ocorreu recentemente. No dia em que os rohingyas bengalis que naufragaram na Baía de Bengala, próximo ao litoral tailandês, tiverem a mesma atenção por parte da mídia que os alemães que morreram em um avião desgovernado.
O Ocidente só se verá livre do terrorismo no dia em que ele próprio, Ocidente, der conta das exclusões que ele cria.
Por Dell Santos, Coordenadora de Eventos do PSDBMULHER Municipal e 2ª vice presidente do secretariado da militância negra PSDB TUCANAFRO Municipal.
O artigo narra efetivamente o que ocorre não é de hoje. Devemos lembrar que o maior inimigo do ocidente foi criado e abastecido pela grande força mundial. Ainda hoje, na própria Síria, duas potências apoiam grupos totalmente opostos, com os mesmos interesses. Tenho em mente que esses líderes radicais não representam o islamismo. O interesse é somente o poder daquela região rica em petróleo. Gostei do texto e vou divulgar. Parabéns Dell.
Ricardo, boa tarde!
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PSDB Mulher Estadual SP